Análises de consultorias como IDC e Avanade apontam para um crescimento de quase 50% na cloud pública. Ainda assim, avaliação demonstra momento de experimento e não consolidação

O armazenamento de dados na nuvem, ou cloud, pública deve crescer cerca de 50% no mercado brasileiro este ano. Segundo fornecedores de TI como Locaweb, UOL Diveo e Softline, a projeção é puxada principalmente por pequenas e médias empresas (PMEs), que precisam economizar dinheiro e ter flexibilidade.

Um segundo destaque ficará com empresas de porte médio e grande, que pretendem aderir a soluções de nuvem porque já enxergam benefícios nessa tecnologia, que o storage (armazenamento) convencional não tem. As companhias maiores e mais tradicionais, atualmente utilizam os servidores físicos para guardar dados e aplicações que consideram fundamentais para a própria estratégia. Por isso, ainda estudam, com reservas, a viabilidade de migrar informações para a tecnologia cloud, que ainda é pouco conhecida.

Apontada por analistas como flexível, escalável e econômica, a nuvem tem a capacidade de entregar em qualquer lugar do mundo o conteúdo previamente guardado. Basta, para isso, que o equipamento no qual os dados serão baixados esteja conectado a uma rede robusta, com capacidade de trafegar os dados demandados.

Crescimento

O analista da IDC Brasil, Pietro Delai, aponta que o crescimento de 50% projetado para a cloud pública diz muito sobre a movimentação que toma conta da estratégia das empresas no momento. “O crescimento desse tipo de cloud está ligado diretamente à fundação de pequenas empresas nos últimos dois ou três anos, que são nativas da nuvem. Ou seja, nunca utilizaram outro tipo de storage para rodar aplicações ou guardar informações”, diz.

Afora o modelo público, as companhias utilizam as nuvens privada – quando é montada uma infraestrutura de cloud, para uso exclusivo da empresa, sem acesso externo – e também híbrida, uma mistura das duas primeiras.

A consultoria não divulga dados sobre a nuvem híbrida e a privada, porque segundo Delai a segunda “está nos limites de dentro das empresas, e por isso não é mensurável. É um dado que só as próprias companhias sabem detalhar”.

O IDC estima que a adoção da nuvem pública por grandes empresas, que ainda demonstram o desejo de manter seus dados trancado a sete chaves, não deve acontecer em massa este ano. Justamente pelo conservadorismo e tradição histórica em trabalhar com outros sistemas de armazenamento, com a monitoria e a segurança totalmente providos pela estrutura interna.

Sobre isso, o gerente de marketing institucional da Locaweb, Luís Carlos dos Anjos, ressalta que quanto maior a empresa, maior estão as barreiras para que ela adote nuvem pública. “As regulamentações das companhias e a tradição dos sistemas de armazenamento próprio ainda impedem avanço generalizado”.

Segurança

Segundo o executivo, a cloud pública “é tão ou mais segura quanto a privada”, desde que seja bem gerenciada em um data center, com regras de tráfego bem definidas. Ele garante que entre os clientes, 90% utilizam nuvem pública e mais 10% mesclam com a nuvem privada. Assim, lançam mão da cloud híbrida e vão aumentar em “pouco mais de 20%” o faturamento da companhia nestes serviços. Carlos estima mais 20% de alta este ano.

O diretor de marketing da russa Softline no Brasil, Roger Melo, também vê a utilização da nuvem pública em massa pelas PMEs, que inclusive são o principal alvo da companhia. A Softline aportou no Brasil em outubro do último ano. “As PMEs se destacam entre os usuários da cloud pública por conta do perfil geralmente jovem, em ascensão e que demanda flexibilidade para aumento ou diminuição abrupta da operação”, exemplifica. E completa ao dizer que isso não afasta a inclusão das gigantes no sistema. “Companhias de qualquer tamanho podem ser integradas à nuvem. Basta que o fornecedor de cloud tenha capacidade de recebê-la.”

Adaptação

Um estudo da companhia de TI Avanade, realizado no segundo semestre de 2014, em 21 países (incluindo o Brasil), apontou para uma adoção em massa da nuvem híbrida (pública+privada).

O vice-presidente de expansão de mercado da Avanade Brasil, Hamilton Berteli, diz a razão da nuvem pública ainda não abrigar aplicações consideradas críticas. “Isso reflete o comportamento atual dos executivos, ainda de grande conservadorismo, de reservas”, classifica.

O executivo ressalta que especialmente no Brasil, esse tipo de retrato do mercado acontece por dois fatores. “As empresas ainda se adaptam à ideia de que a nuvem pode ser positiva, sem que exista risco. Além disso, é fornecida por companhias internacionais e têm seus preços influenciados pelo humor diário do dólar.”

Sobre a moeda, o CEO do brasileiro UOL Diveo, Gil Torquato, indica que companhias as concorrentes nativas do País saem na frente, ao oferecer serviços que são comercializados em real. “Nós não fazemos nenhuma negociação em dólar, porque os quatro data centers da companhia estão instalados em território nacional.”

Ainda segundo ele, ao comprar novos equipamentos para o parque tecnológico como o que o UOL Diveo tem, fornecedores de TI sofrem influência da valorização da moeda estrangeira. Pensando nisso, a empresa se preparou para possível alta. “O que posso dizer é que estamos em uma situação bastante confortável, o que nos coloca à frente dos concorrentes”, completa.

Fonte: DCI